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Keywords

Cosmologies; Cosmopolitics; Kumuã; Rites; Fish; Timbo

Abstract

Nas paisagens etnográficas do Noroeste Amazônico brasileiro se encontra o Rio Vaupés, na Terra Indígena do Alto Rio Negro, no Município de São Gabriel da Cachoeira. Nessas paisagens, os povos do Vaupés fazem o Bahsé Ahpose, o adocicamento das águas e dos peixes na prática do tinguijamento. O conhecimento desse ritual e sua prática resulta do encontro de conhecimentos cosmológicos e cosmopolíticos na vida dos povos do Vaupés. Esse rito se realiza pelos diálogos dos kumuã (xamãs), para quem o adocicamento faz parte da fórmula presente na taxonomia de todas as “rezas” benéficas e está sempre presente nelas. Realiza-se o rito em três momentos: na preparação, na realização do tinguijamento e no adocicamento pós-tinguijamento. Este último é o “benzimento” de reordenamento (bahsé ahponukõsé) do local tinguijado e a adocicação das águas e dos peixes, como forma de negociação com wai mahsã (seres cósmicos) porque envolve as suas moradas. Para os povos do Vaupés Bahsé Ahpose evita a escassez dos peixes e ordena os locais ou lugares de subsistência (dehsubasé ahpose). É um ritual envolto em relação cosmopolítica com os ahko mahsã (gente água) e o wai mahsã (seres cósmicos). Neste artigo, juntamos as perspectivas de dois antropólogos indígenas e de um etnólogo americanista para argumentar que o não cumprimento das regras e preceitos estabelecidos pelas divindades criadoras (demiurgos/avôs do universo) e a não observância do rito de adocicamento “mumipose” (tornar a água em mel) é o que podem tornar o tinguijamento uma prática predatória.

Translated Abstract

In the ethnographic landscapes of the Brazilian Northwest Amazon is located the Vaupés River, in the Upper Rio Negro Indigenous Land, in the Municipality of São Gabriel da Cachoeira. There, the people of Vaupés practice Bahsé Ahpose: sweetening the water and the fishes together with the practice of dyeing. The knowledge of this ritual and its practice results from the encounter of cosmological and cosmopolitical knowledge in the lives of the people of Vaupés. This rite is carried out through dialogues with Kumuã (Shamans), for whom sweetening is part of the formula presents in the taxonomy of all beneficial “prayers” and it is always present in them. The rite takes place in three moments: preparation, dyeing and post-dyeing sweetening. The latter is the “blessing” of reorganization (bahsé ahponukõsé) of the dyed stream and the sweetening of the waters and fishes, as a form of negotiation with wai mahsã (cosmic beings) because it involves their homes. For the people of Vaupés, the Bahsé Ahpose prevents the scarcity of fish and organizes the places of subsistence (dehsubasé ahpose). It is a ritual involved in a cosmopolitical relationship with the ahko mahsã (water people) and the wai mahsã (cosmic beings). This article puts together the perspective of two indigenous anthropologists and an americanist ethnologist, arguing that failure to comply with the rules and precepts established by the creator deities (demiurges/grandfathers of the universe) and the failure to use the sweetening rite “mumipose” (turning water into honey) is what turns dyeing into a predatory practice.

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