•  
  •  
 

Keywords

Povos Indígenas; Monetarização; Transferência de Renda; Amazônia

Abstract

Na virada do século XXI, salários, programas e políticas previdenciárias com aporte renda, voltados ao bem-estar social, começam a atingir povos indígenas brasileiros. Os poucos estudos etnográficos acerca da monetarização concordam sobre possíveis efeitos (deletérios) do dinheiro nas economias alimentares indígenas e relações entre parentes, sem enfatizá-los analiticamente, discussão central neste artigo. Minha análise parte do ano de 2000, quando o dinheiro timidamente adentrava a vida dos Rikbaktsa (Marco-Jê) do sudoeste amazônico, chegando à circulação contemporânea de quantias consideráveis no cotidiano de suas aldeias. A metodologia etnográfica se soma a um survey para estimar a dispersão do dinheiro, em contraste com uma compreensão nativa sobre critérios de cálculo e as magnitudes transacionadas entre os indígenas e sua conceitualização acerca dessas operações. Como analiso, o dinheiro, mercadorias e suas “comidas de verdade” (mydisahawy babata) são impelidos a circular em uma práxis orientada pelas noções de beleza e de risco, como denominadores paradigmáticos da calculabilidade das formas de valor transacionadas entre parentes e além. Em operações concebidas como ajudas, a comida dos brancos e o dinheiro são associados a uma ética relacional que envolve diferentes seres e domínios do cosmos e estimula, de maneira talvez inédita, a produção, o compartilhamento e a redistribuição de recursos vários. Acontecendo no intervalo entre a beleza e o risco e de maneira não prevista na epistemologia de programas centrados no dinheiro, essa intensa circulação e redistribuição de recursos vem impactando o balanço das relações e, em um exercício especulativo, da própria sociedade Rikbaktsa.

Translated Abstract

At the turn of the twenty-first century, wages and income-based welfare programs and pension policies began to reach Indigenous peoples in Brazil. The limited ethnographic literature on monetarization acknowledges the potential (deleterious) effects of money on Indigenous food economies and kin relations, yet these studies rarely place such effects at the center of analytical debate, as I do in this article. My analysis begins in 2000, when monetary resources were only tentatively entering the lives of the Rikbaktsa (Macro-Jê) of the southwestern Amazon, and continues until the current situation in which there is a circulation of substantial amounts of money in everyday village life.

The ethnographic methodology is combined with a survey designed to estimate the dispersion of money, in contrast with a native understanding of the criteria of calculation and of the magnitudes transacted among the Rikbaktsa, as well as their conceptualization of these operations. I argue that money, goods, and what the Rikbaktsa call their ‘real foods’ (mydisahawy babata) are compelled to circulate within a praxis shaped by the notions of beauty and risk, which function as paradigmatic denominators in the calculability of value forms exchanged among kin and beyond. In transactions framed as acts of helping, both ‘white people’s food’ and money become entangled in a relational ethic that encompasses diverse beings and domains of the cosmos, stimulating, perhaps in unprecedented ways, the production, sharing, and redistribution of multiple resources. Occurring in the space between beauty and risk, and in ways not anticipated by the epistemology underlying money-centered welfare programs, this intense circulation and redistribution of resources has been affecting the balance of social relations and, speculatively, the broader configuration of Rikbaktsa society itself.

Share

COinS